Dados de sustentabilidade: maré de mudança

• A integração de fatores não financeiros nas decisões de investimento é cada vez mais comum, mas a escolha e o estilo de integração ainda estão em evolução.
• Consideramos que uma estratégia de dados ESG dedicada é fundamental para que os gestores de ativos satisfaçam as necessidades atuais e futuras em termos de dados, definição do âmbito das carteiras e elaboração de relatórios.
• A nossa equipa de Metodologias e Análises de Sustentabilidade aborda estrategicamente os desafios da seleção, agregação e implementação de dados em classes de ativos públicos e privados.
• O nosso novo motor exclusivo de análise de sustentabilidade (SusIE) é uma ferramenta de dados que visa facilitar a interpretação de dados ESG.

O aumento da divulgação de dados ESG nas últimas décadas tem sido dramático e atingiu um nível em que a maioria das maiores empresas do mundo divulga esse tipo de informações (ver Gráfico 1). Esta mudança foi impulsionada sobretudo por dois fatores: o interesse dos investidores e a regulamentação.

As empresas têm conseguido responder ao interesse dos investidores nos relatórios de sustentabilidade ou de responsabilidade social das empresas através de quadros criados por organismos do setor, como o Carbon Disclosure Project², a Global Reporting Initiative³ ou o Sustainability Accounting Standards Board⁴. Estas organizações promoveram e facultaram orientações sobre os critérios ESG mais importantes para divulgação por parte das empresas.

Gráfico 1: taxas globais de divulgação de informações de sustentabilidade, 1993-2022

Fonte: KPMG Internacional⁵

O segundo fator, e talvez o mais visível, foi a recente vaga de iniciativas regulamentares destinadas aos mercados de capitais. A nível continental e nacional, as entidades reguladoras têm apresentado diferentes requisitos para a divulgação de informações de sustentabilidade por parte das empresas. Um exemplo é o quadro de Principais Impactos Negativos (PAI) da Comissão Europeia, que exige indicadores e metodologias específicos que permitam uma análise comparativa de investimentos potencialmente nocivos.⁶ Prevemos que esta evolução regulamentar se mantenha, especialmente fora da Europa Continental.

É provável que a abrangência e a extensão das divulgações ESG por parte das empresas se expandam significativamente nos próximos anos. Por exemplo, a comunicação de informações sobre o clima está a expandir-se das emissões de âmbito 1 e 2 para um âmbito muito mais vasto de fatores, incluindo o âmbito 3⁷, metano, compensações de carbono e até governação. As divulgações alargadas vão contribuir para quantificar temas como as emissões zero, o alinhamento da taxonomia e a quota de investimento sustentável8. À medida que forem sendo apresentadas mais informações, todos os stakeholders vão ter de se adaptar para garantir que não ficam paralisados por análises inúteis.

Os investidores já sentem dificuldades com o atual volume de dados de sustentabilidade, e a multiplicação de fontes e metodologias não ajuda. Prevemos que ambos aumentem exponencialmente nos próximos anos. O principal desafio está na quantidade de dados provenientes das cada vez mais “agências de rating” não regulamentadas, que estimamos serem mais de mil neste momento (ver Gráfico 2). O resultado são normas distintas em matéria de recolha, interpretação, metodologia e fornecimento de dados, o que gera resultados variáveis em termos de risco, sustentabilidade, impacto ou medidas de atividades controversas.

Agora, podemos medir a nossa frustração perante esta complexidade e falta de uniformização. Embora as correlações dos resultados das agências de rating mais maduras sejam de pelo menos 94%⁹, os ratings dos maiores fornecedores de dados ESG apresentam correlações mais baixas e díspares, tal como salientado pelo CFA Institute em 2021 (ver Gráfico 3).

Gráfico 2: crescimento das agências de rating ESG

Fonte: Allianz Global Investors. *dados projetados.

Gráfico 3: correlação dos ratings ESG (%)

Fonte: CFA Institute¹⁰

Foram precisas várias décadas para que o setor financeiro chegasse a chegar a um consenso com as normas internacionais de relato financeiro (NIRF). Nós estamos a tentar atingir um resultado semelhante para as normas não financeiras num período de tempo muito mais curto. Na AllianzGI, acreditamos que a sustentabilidade exige uma abordagem de dados dedicada e muito específica à seleção e agregação.

Em 2021, criámos a equipa de Metodologias e Análises de Sustentabilidade para desenvolver uma arquitetura transparente, robusta e digital. Essa arquitetura já se encontra lançada e é conhecida como SusIE (Sustainability Insights Engine).

A plataforma SusIE vai apoiar o fornecimento de dados ESG, de sustentabilidade e de impacto — com as respetivas perspetivas e opiniões — aos nossos profissionais de investimento. Implica uma abordagem sólida para a definição do âmbito das fontes de dados, a agregação eficiente desses dados e a sua integração em ferramentas claras e comerciais orientadas para o front office. A SusIE foi concebida para apoiar a introdução de novos dados, a remoção de dados redundantes e o alinhamento com as novas ofertas de produtos aos clientes. Um exemplo é o novo kit de ferramentas de alinhamento com a iniciativa emissões zero, cujo lançamento está previsto para o final de 2023.

Gráfico 4: exemplo de perfil ESG da plataforma AllianzGI SusIE que mostra a Empresa A no setor dos seguros

Imagem retirada do dashboard da SusIE e que mostra a avaliação ESG e as classificações em termos de controvérsia de vários fatores.

Valorizamos a diversidade cognitiva das diferentes abordagens no mercado, o que nos ajuda a evitar enviesamentos subjacentes e não intencionais nos resultados dos modelos. Mas o tratamento das diferentes fontes requer disciplina, por isso, dividimos os fornecedores de dados em três grandes categorias¹¹:

• Generalistas – oferecem uma gama completa de serviços ESG, incluindo dados brutos, análise dos pares, classificações ESG e análise qualitativa de fatores ESG.
• Especialistas – oferta altamente específica ou de nicho de dados, opiniões (por exemplo, small cap, mercados privados) ou temas (por exemplo, biodiversidade, impacto social).
• Tecnológicos – fornecedores que utilizam técnicas de recolha de dados alternativas, como a inteligência artificial ou o processamento de linguagem natural, para oferecer uma nova gama de serviços e análises. Podem incluir medidas prospetivas, uma cobertura mais completa dos universos de investimento, ecrãs de notícias e conjuntos de dados em bruto verdadeiramente independentes.

A única constante em qualquer forma de tecnologia é a mudança e estamos a preparar-nos para ela. Neste momento, identificamos três elementos prováveis e importantes de qualquer evolução dos dados e a forma como podem ser integrados numa estratégia de dados ESG robusta e resiliente:

1. Evolução da recolha de dados: abandono da dependência atual de dados comprados. As novas tecnologias vão trazer mais fontes alternativas e independentes e, consequentemente, captar mais perspetivas. É provável o aparecimento de um modelo híbrido com dados em bruto de qualidade complementados por pareceres de peritos externos.
2. Motores potentes e processamento de dados eficiente para lidar com o volume de dados. Inclui a limpeza, a correspondência, a computação, a transformação e a distribuição de fontes separadas em conjuntos de dados consistentes e normalizados. Métricas E, S e G mais específicas vão servir de base às decisões de investimento e à alocação de ativos e satisfazer as expectativas dos clientes em termos de informação.
3. As avaliações de risco vão beneficiar de novas técnicas. A recolha de conjuntos de relatórios formais já é uma prática corrente, mas será possível uma compreensão mais completa e preditiva dos principais riscos através de novas tecnologias aplicadas a toda a cadeia de valor de uma entidade. Uma medição mais completa dos riscos idiossincráticos não financeiros vai permitir uma diversificação desses riscos.

¹ ESG - critérios ambientais, sociais e de governação corporativa
² Carbon Disclosure Project – www.cdp.net/en
³ Global Reporting Initiative – www.globalreporting.org
⁴ Sustainability Accounting Standard Board – www.sasb.org
⁵ Fonte: KPMG Survey of Sustainability Reporting 2022, KPMG International, setembro de 2022. A amostra mundial das 5800 maiores empresas representa uma amostra mundial das 100 maiores empresas em termos de receita em 58 países ou jurisdições — 5800 empresas no total. As 250 maiores empresas do mundo representam as 250 maiores empresas do mundo em termos de receita com base no ranking da Fortune 500 de 2021.
⁶ Outro exemplo é a Diretiva da UE relativa à divulgação de informações não financeiras 2014/95/UE, bem como a Diretiva Comunicação de Informações sobre a Sustentabilidade das Empresas proposta.
⁷ Os âmbitos 1, 2 e 3 são categorias diferentes de emissões de gases com efeito de estufa; as emissões de âmbito 3 abrangem as emissões produzidas pelos clientes que utilizam os produtos da empresa https://www.weforum.org/agenda/2022/09/scope-emissions-climate-greenhouse-business/
⁸ A percentagem de um fundo que é considerada sustentável de acordo com a definição do Regulamento de divulgação de finanças sustentáveis da UE.
⁹ Estudo sobre os ratings de dívida a longo prazo da Standard & Poor's, Moody's e Fitch de 400 empresas em 24 setores, Kevin Prall, “ESG 7. Ratings: Navigating Through the Haze”, publicação no blogue do CFA Institute, 10 de agosto de 2021
¹⁰ Estudo sobre os ratings ESG de 400 empresas em 24 setores, Kevin Prall, “ESG Ratings: Navigating Through the Haze”, publicação no blogue do CFA Institute, 10 de agosto de 2021
¹¹ No futuro, prevemos uma quarta categoria de fontes de dados não contratuais ou não formais, como fontes públicas, ONG, artigos da imprensa generalista ou especializada ou de organismos do setor, que poderão ajudar a obter informações ou complementar conjuntos de dados ou classificações.